segunda-feira, 14 de junho de 2010

Texto sobre Tela V












Tamboro
Sergio Bernardes | Rio de Janeiro | 01:40:00 | Documentário

Sinopse: Tamboro aborda as principais questões sociais e ambientais do Brasil. O desmatamento da floresta amazônica, a luta pelas terras no campo, a favelização e a criminalidade nos grandes centros urbanos são projetados formando um panorama quase muralista de nossa civilização. O filme percorre todo o Brasil, revelando imagens surpreendentes.



Tamboro na língua dos índios Igaricó quer dizer “de todos para todos” posição tomada por Sergio Bernardes, autor do documentário do mesmo nome, significando escolha pela inclusão, pela participação e pelo respeito quase sagrado à natureza, flora e fauna, e à gente simples e forte do Brasil.
O projeto do filme trata de documentar o Brasil do presente com a visão contemporânea de seu autor, com um sentimento patriótico sem ufanismo. Bernardes conhece o Brasil brasileiro que amorosamente se abre aos olhos dos novos e eternos viajantes. Em solo brasileiro, em viagem frenética por nosso território gigante, com os olhos límpidos de preconceitos, sem comprometimento com partidos ou ideologias, são de seus olhos que emanam as imagens extasiantes do Brasil, a um tempo bestial e belo. Sergio compartilha essa visão do Brasil com o espectador e, extraordinariamente, opina.
Organiza as imagens em mosaicos, introduzidos cada qual pelas sínteses dos pensadores utópicos a quem o eterno viajante recorre para compartilhar seu entendimento com todo o público, o povo brasileiro. O amor ao poder e o poder do amor; a grandeza finita da Amazônia; a ganância privilegiada dos poucos e a luta produtiva dos muitos; o ritmo do crescimento e tensão originada na cultura tradicional; a volta à nossa infância livre como um país redescoberto no olhar dos indígenas. Dentro de cada mosaico se vêem os dois lados da moeda, cara do poder ou coroa do amor, e assim, gente e sistema, conservação e destruição, moradia desumana e vasto horizonte de nossas águas, montanhas e vales.
Não fosse suficiente, o autor de Tamboro intervém em quadros emblemáticos, verdadeiras instalações de arte contemporânea, para explicar as próprias imagens, e as palavras. Dialoga com Helio Oiticica, Antonio Manuel, Arthur Omar. Seus quadros, por assim dizer, demonstram que a destruição do habitat natural representa para os animais e os habitantes a derrubada de sua casa, como as favelas representam o descaso do banquete dos poderosos. A fama do seu Jorge esquecida na vala comum dos preconceitos, o banquete dos ricos que ignoram a miséria.
Os viajantes embarcam finalmente de volta do Brasil e, deixam para todos sem exceção, o jogo da escolha que decidirá o nosso futuro, síntese das contradições de nosso presente.
Nanci Valadares
(cientista política)

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