Realizado com os recursos do prêmio do Edital Catarinense de Cinema 2009, e diversos apoios culturais e institucionais, a produção já foi selecionada para o 10º Femina – Festival Internacional de Cinema Feminino, em julho, no Rio de Janeiro.
No roteiro de Vera Longo e Sandra Alves, Ana (Marina Medeiros), a personagem principal, irreverente e excêntrica, perde os pais subitamente. Jovem, rica e órfã no final do século XIX, passa a ter seu patrimônio administrado por Fonseca (Renato Turnes), que após a morte da mãe de Ana, Augusta (Rejane Arruda), se torna seu tutor, toma posse dos seus bens e a confina numa ilha.
Lá, considerada doente e louca, ela busca sanidade na poesia que escreve e na relação com a figura etérea de Lilith (Maria Gertrudes), enquanto vive em meio aos conflitos de uma série de mulheres e homens: o recolhimento e a autodescoberta de sua dama de companhia, Maria Morena (Nara Sakarê), a perversão e o desassossego do tutor Fonseca a ambição e rudeza do barbeiro Joaquim (Chico Caprario), sobretudo na relação com sua mulher, Matilde (Lilih Cury).
Um pescador/curandeiro (José Luiz Scholl de Lima), a prostituta Nina (Angélica Figuera), um médico (Marco Canonici) e um grupo de estivadores completam os habitantes e circundantes da Ilha, em si, quase uma personagem.
A metáfora da renda como trama, entrelaçamento, é explicitada ao longo do filme. Ana veste rendas, escreve poesias, ousa, vive intensamente. Não se submete à letargia que lhe é imposta, não abdica do direito de se expressar e tecer seu próprio destino. As imagens traduzem o olhar da protagonista e sua visão de mundo através da poética visual.
Rendas no Ar ousa ao utilizar poesia e experimentação visual, na fotografia, montagem, na arte com excelência dos figurinos e cenários, na intensidade da música e som. Inovador também no processo, pois cenografia e figurinos foram criados com base na reinserção de materiais, em uma oficina de criação aberta à comunidade. Conforme a diretora, “um filme artesanal, feito a mão”, que incorporou critérios de sustentabilidade ao processo desde a sua concepção.
O filme é realizado pela Vagaluzes Filmes, produtora de Florianópolis, com coprodução de Anágua Filmes e produção associada da Usina da Alegria Planetária e Cinecolor Digital.
A diretora Sandra Alves é também autora do argumento e roteiro, produtora executiva e montadora do filme. Em 2009 realizou com Vera Longo o documentário “Percepção de Risco, a Descoberta de um Novo Olhar”, premiado como melhor longa-metragem do FriCine 2009, IV Festival Internacional de Cinema Ambiental de Nova Friburgo-RJ. Sandra dirigiu também L’Amar, média-metragem em 35mm, ganhador do 1ª Edital Cinemateca Catarinense em 2001, com longa carreira em festivais nacionais e internacionais e na televisão.
Processo do filme
As filmagens aconteceram entre 17 de agosto e 21 de setembro de 2011, numa única locação, a Ilha de Anhatomirim e sua Fortaleza de Santa Cruz, edificação do século XVIII, viabilizada pelo apoio institucional da Universidade Federal de Santa Catarina e do Projeto Fortalezas/UFSC. Realizadas numa época de chuva acima da média, as filmagens foram um desafio de logística, pois a equipe era transportada para a ilha diariamente de barco, assim como uma parte dos equipamentos e as refeições. Essa etapa teve o apoio do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina, Recanto Xanahi e Escuna Vento Sul. Ao todo, o número de profissionais chegou a 50.
Christian Duurvoort, ator e diretor, preparador o elenco de produções como “Ensaio sobre a Cegueira” e “Cidade dos Homens”, preparou os atores, durante quatro semanas. O elenco tem a atriz e também preparadora de atores Marina Medeiros em seu primeiro longa-metragem como protagonista. Nara Sakarê, dos filmes “Tríade”, de Amilcar Claro e “Encarnação do Demônio”, de José Mojica Marins e os atores catarinenses e diretores Renato Turnes, premiado no FAM como melhor ator em 2010 e que estreia nesta edição seu curta “O Homem Dublado” e Chico Caprario compõem parte do elenco.
O filme é o primeiro longa inteiramente fotografado por Andréa Scansani (Daraca), com a câmera digital SI2K, que utiliza um formato novo de compressão e fina resolução, resultando praticamente numa película digital A fotografia privilegiou a luz natural e explorou texturas, formas arquitetônicas e a natureza da Ilha.
A direção de arte da Usina da Alegria Planetária, assinada por Renato Bolelli Rebouças, Kabila Aruanda, Beto Guilger e Vivianne Kiritani utilizou materiais descartados, fora de uso ou emprestados na criação e confecção de cenário, objetos de cena e figurinos. No workshop aberto realizado em 2011, em Florianópolis, foram criadas algumas peças do figurino. Diversas instituições e pessoas emprestaram móveis e objetos para o filme, como o Museu do Lixo da Companhia de Melhoramentos da Capital (COMCAP, Florianópolis), que se tornou parceiro e emprestou dezenas de peças, inclusive um piano que havia sido jogado no lixo. Kabila Aruanda, diretor de criação e figurinista, é o criador do figurino de Rendas no Ar, com base em sobras de tecidos e rendas e refação de peças prontas.
As salas amplas e de pé direito alto da Fortaleza de Anhatomirim, a chuva constante durante o período de filmagem, as goteiras nas locações, o vento forte e ruídos de barcos e aviões passando constituíram grandes desafios para o som direto, assinado por Cristiano Scherer.
A música original é de André Abujamra, autor da música de produções como “Bicho de 7 Cabeças”, de Laís Bodanzky, e “Carandiru”, de Hector Babenco.
O filme utilizou princípios de sustentabilidade desde o projeto. Além da reutilização de materiais, doações ou empréstimos de objetos de cena, a produção buscou minimizar e compensar a emissão de carbono das atividades. O Instituto Harmonia na Terra, parceiro do filme, plantou 300 árvores nativas da Mata Atlântica. O lixo produzido foi encaminhado para a reciclagem e cada membro da equipe tinha sua própria caneca de em lugar de copos descartáveis.
Mais informações:
www.vagaluzesfilmes.com.br
http://vagaluzesfilmes.wordpress.com/
http://www.facebook.com/RendasnoAr
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